A exposição de Cyriaco Lopes e Terri Witek, Minotauros, é resultado de uma reflexão sabre a interação de texto e imagem, mas para, além disso, sobre poesia, ou seja, um ponto sutil onde os elementos ganham força autônoma capaz de transpor a sintaxe e a imagem, para ganhar um tipo de singularidade que ultrapassa os referidos campos.
A poesia nos dá a capacidade de nos aproximar um pouco mais das coisas, sejam elas concretas ou abstratas; de vencermos um pouco mais a opacidade do mundo, da qual nos falou Ferreira Gullar, daquele extremo onde as coisas existem como entes não nomeados, porque são somente coisas em interação com o humano.
0 preço de viver nos exige um tipo de resposta que, em determinados momentos, só pode ser dado pela arte; e se pensarmos que a poesia é mais que ela mesma, poderemos pensá-la como um ser que habita qualquer linguagem artística, cuja estrutura deva ser extrapolada para ganhar um sentido outro que traduza aquilo que somos.
Aqui, em Minotauros, os artistas constroem um conjunto de poemas a partir de uma residência na Grécia, em Creta, e de viagens pelo mundo, onde fizeram a coleta de imagens de águas – rios, mares e lagos. E como se o mundo grego se expandisse em sensível conexão com outras águas de outras culturas, a formar um labirinto de rios e mares. E nos fosse oferecido identificarmo-nos, não com o Minotauro ou com o herói Teseu, mas com o Labirinto. Sim, um labirinto de águas em movimento …
Água é matéria entre as ilhas gregas, é o espaço que as separa e as conecta: lugar de navegação e também de naufrágio. Se o homem é uma ilha, são ilhas que navegam nesse poema, nesse labirinto de águas. Diz Hölderlin: “Acabo de naufragar e hoje não sei ser mais util ao mundo do que cantar para ele.” Este “cantar “, certamente, é um poema.
Alberto Saraiva – Curador
Oi Futuro Center for Art & Technology, Rio de Janeiro, Brazil. Curator: Alberto Saraiva. 2017